terça-feira, 25 de outubro de 2022

Paródia

Leia os textos abaixo para responder às questões.


Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Gonçalves Dias – 1857, “Primeiros cantos”

 

Canção do exílio 

Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz "tuim" na cabeça da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, é claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são mais as das fábricas, que fecharam. São mesmo é dos camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição. 

(BONASSI, Fernando. 15 cenas de descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Ítalo (Org.). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio Janeiro: Objetiva, 2000. p. 607.)


VOCABULÁRIO

emborcado: colocado de bruços, de boca para baixo; despejado, tombado. 

cor-de-bile: esverdeado ou amarelado. 

frescura: gíria popular com o significado de coisa sem valor, dispensável. 

mistura: gíria popular indicando ingredientes para o almoço ou jantar (carne, verduras, legumes etc.). 

malaco: gíria com o significado de marginal, bandido,ladrão. 


1. Esse texto dialoga diretamente com o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. Fernando Bonassi fez uma paródia ou uma paráfrase desse poema? Justifique. 

 

2. Qual é o tema central desse microconto? 

 

3. Registre falso ou verdadeiro para cada uma das alternativas a seguir: 

a) O texto de Bonassi dialoga com o noticiário policial. 

b) A divisão em cenas - cena 9, por exemplo - remete à linguagem cinematográfica. 

c) O autor denuncia o degredo de cidadãos brasileiros em solo pátrio. 

d) Ele reafirma a visão ufanista do romântico Gonçalves Dias. 

 

4. Explique as denúncias expressas em cada uma das seguintes passagens: 

a)"Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos." 

b) "Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz 'tuim' na cabeça da gente." 

c) "Tem também muros de bloco (sem pintura, e claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco."

d) "[...] tem HK, AR 15, M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada)." 

e) "As sirenes [...] não são mais as das fábricas, que fecharam." 

f) "São mesmo é dos camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição." 



segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Barroco

 Leia o poema abaixo para responder às questões 1, 2 e 3:

 

A Cristo Nosso Senhor crucificado estando o poeta na última hora de sua vida

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
  
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
  
Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
  
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

Gregório de Matos

 

1) Que características da literatura barroca podemos perceber no poema acima?

 

2) A religiosidade católico-cristã cultivada no contexto da Contarreforma manifesta-se em diversos poemas barrocos por meio de uma linguagem ornamentada, repleta de imagens.

a) Na primeira estrofe do texto 1, o que o eu lírico declara a Jesus? Comprove sua resposta com elementos do texto.

b) Nessa estrofe, a cruz, importante símbolo do cristianismo, é retratada por meio de uma figura de linguagem. Identifique e explique essa figura.

c) No quarto verso dessa estrofe, o eu lírico finaliza com uma figura de linguagem a declaração que faz a Jesus. Qual é essa figura? Que efeito de sentido ela produz na primeira estrofe?

 

3) No poema, ao sentir que o fim de sua vida se aproxima, o eu lírico, nas duas últimas estrofes, busca a salvação de sua alma por meio de uma argumentação.

a) Que argumento o eu lírico utiliza na terceira estrofe?

b) Na última estrofe, o eu lírico conclui que há esperança para sua salvação. Como ele chega a essa conclusão?


Leia o poema abaixo para responder à questão 4.


Ao valimento que tem o mentir

Mau ofício é mentir, mas proveitoso...

Tanta mentira, tanta utilidade

Traz consigo o mentir nesta cidade

Como o diz o mais triste mentiroso.

Eu, como um ignorante e um baboso,

Me pus a verdadeiro, por vaidade;

Todo o meu cabedal meti em verdade

E saí do negócio perdidoso

Perdi o principal, que eram verdades,

Perdi os interesses de estimar-me,

Perdi-me a mim em tanta soledade;

Deram os meus amigos em deixar-me,

Cobrei ódios e inimizades...

Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.

Gregório de Matos


4- O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas vertentes. Identifique-a e justifique sua resposta.

 

Leia o texto atentamente para responder à questão 5.

Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,

Te lembra hoje Deus por sua Igreja;

De pó te faz espelho, em que se veja

A vil matéria, de que quis formar-te.

Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,

E como o teu baixel sempre fraqueja

Nos mares da vaidade, onde peleja,

Te põe à vista a terra, onde salvar-te.

Alerta, alerta, pois, que o vento berra.

Se assopra a vaidade e incha o pano,

Na proa a terra tens, amaina e ferra.

Todo o lenho mortal, baixel humano,

Se busca a salvação, tome hoje terra,

Que a terra de hoje é porto soberano.

Gregório de Matos

 

5- Gregório de Matos expressou em sua obra toda a tensão do século XVII, ao abordar os temas predominantes do Barroco. Identifique no poema elementos que atestam o comprometimento do poeta com o respectivo momento literário.

 

Texto para a questão 6.


Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.

Gregório de Matos

 

6- Neste poema, o autor barroco vai revelando, de forma contundente, um panorama da Bahia do século XVII. Sua crítica se refere, de modo geral

a) à arrogância e ao autoritarismo dos políticos, que não conseguem sequer governar a própria vida.

b) à forma como os pobres, que não furtam, são tratados pelos aproveitadores, sejam governantes ou não.

c) à ousadia dos governantes e à escravidão, que humilhava os negros e mulatos e envergonhava o país.

d) aos maus costumes dos governantes e comerciantes, que vivem de intrigas e usuras.

e) aos péssimos costumes e comportamentos da população em geral, independentemente do estrato ou posição social.

 

Texto para a questão 7.

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo a qualquer hora

Em tuas faces a rosada Aurora,

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia

O ar, que fresco Adônis te namora,

Te espalha a rica trança voadora,

Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh, não aguardes, que a madura idade

Te converta em flor, essa beleza

Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

Gregório de Matos

 

Acerca da(s) característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de Gregório de Matos, destaca(m)-se.

I. Uso de linguagem vulgar e tratamento impiedoso às

pessoas de sua época.

II. Uso das figuras de linguagem antítese e paradoxo,

evidenciando a oposição de ideias.

III. Desenvolvimento do tema clássico locus amoenus (lugar tranquilo, agradável, onde se encontram os amantes).

 

7- Pode(m) ser apontada(s) como característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de Gregório de Matos apenas:

a) I.

b) II.

c) III.

d) II e III.

 

Leia o poema para responder ao que se pede.

Goze a corte o ambicioso

de aplausos, e vaidades,

que eu cá nestas soledades

o melhor descanso gozo:

aqui vivo cuidadoso

de descuidos, e este estado

julgo bem-aventurado,

que o melhor estado, cuido,

é aquele, em que o descuido

vem a ser todo o cuidado.

Gregório de Matos


8- Gregório de Matos foi um dos mais notáveis poetas do Barroco em língua portuguesa, especialmente por possuir independência de pensamento e sofisticada capacidade de escrita. Para criticar homens vaidosos e ambiciosos de seu tempo, o poeta usa uma fi gura de linguagem cara a muitos textos barrocos. Essa figura é:

a) a metáfora, empregada várias vezes como forma de comparar os bons e os maus.

b) a elipse, usada para camuflar a identidade daqueles a quem procura criticar.

c) a prosopopeia, utilizada para personificar vários sentimentos negativos.

d) o hipérbato, inversões sintáticas que reforçam o contraste entre o poeta e os criticados.

e) a ironia, recurso útil para expressar sua vida marcada por escândalos e inimizades.

 

O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu.

Seis horas enche e outras tantas vaza

A maré pelas margens do Oceano,

E não larga a tarefa um ponto no ano,

Depois que o mar rodeia, o sol abrasa.

Desde a esfera primeira opaca, ou rasa

A Lua com impulso soberano

Engole o mar por um secreto cano,

E quando o mar vomita, o mundo arrasa.

Muda-se o tempo, e suas temperanças.

Até o céu se muda, a terra, os mares,

E tudo está sujeito a mil mudanças.

Só eu, que todo o fim de meus pesares

Eram de algum minguante as esperanças,

Nunca o minguante vi de meus azares.

 

9- De acordo com o poema, é correto afirmar:

a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si.

b) A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano.

c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável.

d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a áurea mediocritas.

e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.


Leia o fragmento do Sermão da sexagésima, do padre Antônio Vieira, para responder à questão 10.


“Por isso são maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras.”

VIEIRA, Antônio. Sermões escolhidos. São Paulo: Martin Claret, p. 84.


10- Sobre o sermão, seu autor e o trecho reproduzido, assinale a afirmação correta.

a) De acordo com o trecho em questão, os piores ouvintes são aqueles de entendimento agudo, porque as setas agudas se despontam na pedra.

b) Neste sermão, Vieira faz uma crítica aos sermões rebuscados e incompreensíveis e ensina a arte de pregar.

c) O trecho exemplifica a preferência de Vieira pelo jogo de palavras e pelo exagero formal.

d) Vieira afirma que é mais fácil falar para aqueles que têm “vontades endurecidas”. Basta que se use argumentos agudos.

e) O sermão, cuja premissa é a “Parábola do semeador”, alega que as pedras são “solo fértil” para pregar; basta que o pregador use palavras duras (agudas) como setas, que rompem a pedra com as suas pontas.

 

Leia e responda.


“Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. [...] O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele.”


11- Podemos reconhecer nesse trecho do padre Antônio Vieira:

a) o caráter argumentativo típico do estilo barroco (século XVII).

b) a pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor árcade (século XVIII).

c) uma visão de mundo centrada no homem, própria da época romântica (princípio do século XIX).

d) o racionalismo comum dos escritores da escola realista (fim do século XIX).

e) a consciência da destruição da natureza pelo homem, típica de um escritor moderno (século XX).

 


Sermão da Sexagésima

Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.

VIEIRA, A. Sermões escolhidos. V. 2. São Paulo: Edameris, 1965.

 

12- No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal:

a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.

b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.

c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.

d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.

e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.

 

 Leia o excerto do Sermão de Santo Antônio aos peixes, de Antônio Vieira (1608-1697).

“A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lhes nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer. [...] Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes?"

Antônio Vieira. Essencial.

13- No sermão, Vieira critica:

a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.

b) a falta de ambição dos miseráveis.

c) a ganância excessiva dos poderosos.

d) o excesso de humildade dos miseráveis.

e) o excesso de vaidade dos poderosos.


Leia para responder.

[...] Vai o navio navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela, ou na corda, e cai palpitando. Aos outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das antenas e cair morto! [...] O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas laços, como ave. Vê, voador, como correu pela posta o teu castigo. Pouco há, nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés, amortalhado nas asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe: nem voar poderás já, nem nadar.[...]

VIEIRA, Antônio. Os voadores. Vieira: trechos escolhidos.

Seleção de Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Agir, 1971. p. 64.

(Coleção Nossos Clássicos).

 

14- Pe. Antônio Vieira, por meio de uma linguagem metafórica, faz uma reflexão crítica acerca:

a) da imortalidade.

b) da hipocrisia.

c) do egoísmo.

d) da ambição.

e) da injustiça.


domingo, 16 de outubro de 2022

Poemas diversos - Exercícios de interpretação de texto

Leia o poema abaixo para responder às questões 1 a 3.


Cais matutino

Mercado do peixe, mercado da aurora:
Cantigas, apelos, pregões e risadas
À proa dos barcos que chegam de fora.

Cordames e redes dormindo no fundo;
À popa estendidas, as velas molhadas;
Foi noite de chuva nos mares do mundo.

Pureza do largo, pureza da aurora.
Há viscos de sangue no solo da feira.
Se eu tivesse um barco, partiria agora.

O longe que aspiro no vento salgado
Tem gosto de um corpo que cintila e cheira
Para mim sozinho, num mar ignorado.


Ribeiro Couto


1- Rico em imagens e aspectos sensoriais, o poema descreve o amanhecer.

a) Que local é descrito no poema

b) Que palavras são responsáveis pelas sugestões visuais sobre o local?

c) E quais são responsáveis pelas sugestões sonoras?

d) E quais pelas sugestões táteis?

e) E pelas sugestões gustativas?


2) Como o eu lírico se sente em relação a tudo a que assiste?


3) Observe a estrutura formal do poema.

a) Quantas estrofes ele apresenta?

b) Quantos versos há em cada estrofe?

c) Que outros recursos do gênero poema podem ser constatados? Justifique com fragmentos do texto.



Leia o texto abaixo para responder às questões 4 a 12.


Soneto da fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vive-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

 

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

 

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

 

Vinícius de Moraes


4- Por que esse texto pode ser considerado um poema?

 

5- Nesse consagrado poema, qual o sentimento evidenciado?

6- Na 2ª estrofe, o eu lírico afirma que vai dedicar-se à pessoa amada nos mais diferentes momentos da vida. Quais são esses momentos?


7- O que representa uma chama? Como podemos associar essa palavra ao amor para compreendermos, o verso “que não seja imortal, posto que é chama”?

      

8- O que você entende por “Mas que seja infinito enquanto dure”?


9- Relacionando o conteúdo do poema com a realidade atual, você acha que é possível alguém ser tão fiel a outrem como nos coloca o poeta? Por quê?


10- Por que, de acordo com o texto, a morte é a angústia de quem vive, e a solidão é o fim de quem ama?


11- O poema se intitula “Soneto de Fidelidade”. Qual ou quais dos itens seguintes traduzem melhor o conceito de fidelidade e de amor no texto?

a)   Fidelidade é entrega total à pessoa amada e renúncia a outras possibilidades amorosas.

b)   Fidelidade é uma exclusividade amorosa que deve durar para sempre.

c)   O amor não é eterno, mas, enquanto dura, deve-se ser fiel a ele de forma intensa e qualitativamente infinita.

d)   Só há fidelidade no amor quando ele é infinitamente duradouro, embora ele possa um dia acabar.

 

12- Além da função poética, que outra função da linguagem aparece com evidência no texto lido? Justifique sua resposta transcrevendo um verso do poema.

 

13- Apesar de não apresentarem rimas e divisão em estrofes, pode-se dizer que os textos abaixo também podem ser considerados poemas? Justifique.

 

Texto I


Impressionista

 

Uma ocasião,

meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante.

Por muito tempo moramos numa casa,

como ele mesmo dizia,

constantemente amanhecendo.

 

Adélia Prado

 

Texto II

 

O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta

atrás de casa casa

Tempo depois

Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz atrás de sua casa
se chama enseada.

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro mole
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

 

Manoel de Barros



quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Texto dissertativo-argumentativo

Olhares que buscam o Brasil

    Ao despontar como potência econômica do século XXI, o Brasil tem cada vez mais atraído os olhares do mundo, chamando a atenção da mídia, de grandes empresas e de outros países. Contudo, é outro olhar não menos importante que deveria começar a nos sensibilizar mais: o olhar marginalizado e cheio de esperança daqueles que não têm dinheiro, dos famintos e desempregados ao redor do globo. São pessoas com esse perfil que majoritariamente contribuem para o crescente volume de imigrantes no país, e o que se vê é uma ausência de políticas públicas eficientes para receber e integrar essas pessoas à sociedade.
    Não parece que a solução seja simplesmente deixar que imigrantes pouco qualificados continuem entrando no país de forma irregular e esperar que eles, sozinhos, encontrem um ofício para se sustentar. O governo ainda não percebeu que a regularização desses imigrantes e a inserção dos mesmos no mercado de trabalho formal poderiam servir como oportunidades para o país arrecadar mais impostos e possíveis futuros cidadãos, ou seja, novos contribuintes para a deficitária Previdência Social.
    Visando aproveitar tais benefícios, o governo poderia começar a implantar, nas regiões por onde chegam os imigrantes, mais órgãos e agências que oferecessem serviços de regularização do visto e da carteira de trabalho, posto que ainda há muita deficiência de controle nesse setor. Além disso, nos destinos finais desses imigrantes poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados para os mesmos. Isso facilitaria muito a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho formal e poderia inclusive suprir a alta demanda por mão-de-obra em setores como o da construção civil, por exemplo.
    Nesse sentido, é preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas a fim de que o país não deixe escapar essa oportunidade: a de transformar o problema da imigração crescente em uma solução para outros. A questão merece mais atenção do governo, portanto, pois não deve ser a toa que o Brasil, além de ser conhecido pela hospitalidade, também o é pelo modo criativo de resolver problemas. Prestemos mais atenção aos olhares que nos cercam; deles podem vir novas oportunidades.

1. O texto lido segue a estrutura das dissertações. Identifique, justificando, os parágrafos que correspondem:

a) à introdução;
b) ao desenvolvimento;
c) á conclusão;

2. Qual é a tese quanto ao problema da imigração no Brasil defendida no texto?

3. Para fundamentar a tese que defende, o autor organiza seus argumentos em dois parágrafos e, conforme solicitado pela prova do Enem, apresenta uma proposta de intervenção.

a) identifique os argumentos em cada parágrafo.

b) qual(is) é (são) a(s) proposta de intervenção sugerida(s)?

4. Na conclusão, o autor, para finalizar o texto, faz uma retomada tanto de seus argumentos como de uma imagem que apresentou no início.

a) quais argumentos são retomados?

b) identifique a imagem apresentada no início do texto e retomada na conclusão.

c) explique como essas retomadas contribuem para a estrutura da dissertação.

5. Em exames como o do Enem, há valorização do uso da norma-padrão, mas alguns poucos desvios são permitidos, desde que não prejudiquem a unidade do texto. Há no texto em estudo certas inadequações à norma-padrão formal.

a) identifique as inequações presentes em cada um destes trechos:

"Poderiam ser oferecidos cursos de português e cursos qualificantes voltados para os mesmos"

"É preciso que atitudes mais energéticas sejam tomadas"

"Não deve ser a toa que o Brasil"

b) reescreva os trechos, fazendo as devidas adequações à norma-padrão.

6. Com base no estudo sobre progressão referencial e operadores argumentativos realizado na seção Língua e linguagem deste capítulo, identifique no primeiro parágrafo do texto:

a) os termos que retomam, respectivamente, os referentes Brasil (1°linha) e mundo (2°linha);

b) um exemplo de progressão referencial catafórica;

c) um exemplo de operador argumentativo de contraposição.

d) um exemplo de operador argumentativo de audição.

7. Em geral, as dissertações escolares são construídas em um tom impessoal. No texto em estudo, entretanto, ocorre a presença da 1° pessoa, observada no uso de pronome nós.

a) levante hipóteses: Por que o tom impessoal é o mais utilizado nos textos dissertativo?

b) a quem se refere à 1° pessoa no texto em estudo?

c) explique por que, nesse contexto, o uso da 1° pessoa não descaracteriza a impessoalidade da linguagem.


Leia o texto dissertativo-argumentativo abaixo para responder às questões que seguem. 

A imigração no Brasil

   Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração. 1- _____, inúmeros brasileiros deixaram 2- _____ em busca de melhores condições de vida. No século XXI, um fenômeno inverso é evidente: a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios, com indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos. No entanto, as condições precárias de vida 3- _____ são desafios 4- _____ para a plena adaptação de todos os cidadãos 5- _____.
     A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo é um importante fator atrativo 6- _____. 7- _____ o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo previsões, seja menor em 2012 em relação a anos anteriores, o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C.
     8- _____ contribui para a construção de uma imagem positiva e promissora do Brasil no exterior, o que favorece a imigração. A vida dos imigrantes no país, 9- _____, exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria.
    10- _____, para impedir a continuidade 11- _____, é imprescindível a intervenção governamental, por meio da fiscalização de empresas que apresentem imigrantes como funcionários, bem como a realização de denúncias de exploração por brasileiros ou por imigrantes. 12- _____, é necessário fomentar o respeito e a assistência a eles, ideais que devem ser divulgados por campanhas e por propagandas do governo ou de ONG's, além de garantir seu acesso à saúde e à educação, por meio de políticas públicas específicas 13- _____.

8. Em sua primeira leitura, você certamente percebeu que faltam alguns termos fundamentais para a compreensão do texto.

a) Entre as expressões a seguir, identifique as que completam adequadamente o texto e escreva-as em seu caderno, na ordem em que devem ser empregadas.

a esse grupo - Embora - entretanto - Na chamada década perdida - dessas pessoas - Portanto - aos estrangeiros - Ademais - Esse aspecto - dessa situação - ao governo e à sociedade brasileira - à nova realidade - o país

b) Reveja no texto os seguintes trechos e expressões e indique qual(is) expressão(ões) do quadro do item anterior retoma(m) cada um deles.
  • "a década de 1980"
  • "o Brasil"
  • "indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos"
  • "a chegada ao Brasil de grandes contingentes imigratórios"
  • "o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C"
  • "A vida dos imigrantes no país [...] exibe uma diferente e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria"

c) Volte novamente ao texto e, com base nas relações estabelecidas entre as ideias, associe os conectivos presentes no item a aos seguintes valores semânticos.
  • adição
  • adversidade
  • concessão
  • conclusão

d) Identifique no texto outro conectivo com o mesmo valor semântico de entretanto.


9. O texto lido, conforme aponta o título, discorre sobre a questão da imigração no Brasil.

a) Levante hipóteses: Quais são os possíveis meios de circulação de textos como esse? Qual é a sua principal função?

b) Sabendo que o texto lido é uma redação do Enem, discuta com os colegas e o professor: Qual é, de fato, a função de textos como esse?


10. Discuta com os colegas e o professor e responda:

a) Qual é a tese defendida por esse texto?

b) Quais argumentos e fatos ele utiliza para fundamentar o ponto de vista adaptado?

c) Qual é a conclusão do texto?


11. Releia estes trechos do texto:

  • "Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração"
  • "o país mostra um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo aumento do poder de consumo da classe C"

a) Há, nos trechos, termos que podem ser eliminados sem prejuízo para a estrutura e o sentido global deles. Identifique-os.

b) Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual é a função desses termos nos trechos? Justifique sua resposta.


12. leia o texto dissertativo-argumentativo abaixo para responder às questões.

Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico. Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do terceiro mundo, sobretudo em certas regiões da África, vemos com tristeza, a falência da solidariedade hum, Ana e colaboração entre as nações. Além disso, nessas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coreia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns membros da Comunidade dos Estado Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou. Outra preocupação constante é o desiquilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável. Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.

a) Divida o texto dissertativo-argumentativo em parágrafos e justifique as suas escolhas.
b) Qual é a tese defendida no texto?
c) Identifique um argumento de sustentação à tese.
d) Qual é a proposta de solução do texto?
e) Encontre três palavras que são exemplos de conectivos.
f) Encontre cinco palavras que são exemplos da norma culta da língua.


13. Complete os textos abaixo com palavras/expressões sinônimas ou conectivos que representem os termos em parênteses.

Texto I

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, 1. __________ (pronome para Sísifo) atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. 2. __________ (atualmente), esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos deficientes auditivos brasileiros, 3. __________ (coesão referencial a brasileiros) buscam ultrapassar as barreiras 4. __________ (coesão referencial a barreiras) os separam do direito à educação. Nesse contexto, não há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à 5. __________ (descaso) governamental, mas também ao preconceito da sociedade.

A Constituição cidadã de 1988 garante educação inclusiva de qualidade aos deficientes, todavia o Poder Executivo não 6. __________ (põe em prática) esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo se verifica que esse conceito encontra-se 7. __________ (distorcido, atrapalhado) no Brasil à medida que a oferta não apenas da educação inclusiva, como também da preparação do número suficiente de professores especializados no cuidado com surdos não está presente em todo o território nacional, fazendo os direitos permanecerem no papel.

8. __________ (igualmente, do mesmo modo), o preconceito da sociedade ainda é um grande 9. __________ (obstáculo) à permanência dos deficientes auditivos nas escolas. Tristemente, a existência da discriminação contra surdos é reflexo da valorização dos padrões criados pela consciência coletiva. No entanto, segundo o pensador e ativista francês Michel Foucault, é preciso mostrar às pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar pensamentos 10. __________ (errados) construídos em outros momentos históricos. Assim, uma mudança nos valores da sociedade é fundamental para 11. __________ (passar além, deixar pra trás) as barreiras à formação educacional de surdos.

12. __________ (expressão resumidora), 13. __________ (sem dúvida), medidas são necessárias para resolver esse problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos. - uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador - a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral - por conseguinte - conscientizem-se. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.


Texto II

Na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, o realista Machado de Assis expõe, por meio da 1. __________ (aversão, repugnância) do personagem principal em relação à deficiência física (ela era “coxa), a maneira como a sociedade brasileira trata os deficientes. 2. __________ (atualmente), mesmo após avanços nos direitos 3. __________ (do surdos) a situação de exclusão e preconceito permanece e se reflete na 4. __________ (má) condição da educação ofertada aos surdos no País, 5. __________ (coesão referencial a educação) é responsável pela dificuldade de 6. ___________ (inclusão) social desse grupo, especialmente no ramo 7. __________ (do trabalho, labor).

Convém ressaltar, a princípio, que a má formação socioeducacional do brasileiro é um fator determinante para a permanência da precariedade da educação para deficientes auditivos no País, uma vez que os governantes respondem aos 8. __________ (desejos) sociais e grande parte da população não exige uma educação inclusiva por não necessitar dela. Isso, 9. __________ (de encontro, que soa com) ao pensamento de A. Schopenhauer de que os limites do campo da visão de uma pessoa determinam seu entendimento a respeito do mundo que a cerca, ocorre porque a educação básica é deficitária e pouco prepara cidadãos 10. __________ (no que diz respeito) aos respeito às diferenças. Tal fato se reflete nos 11. __________ (ínfimos) investimentos governamentais em capacitação profissional e em melhor estrutura física, medidas que tornariam o ambiente escolar mais inclusivo para os surdos.

Em consequência disso, os deficientes auditivos encontram inúmeras dificuldades em variados 12. __________ (espaços, círculos) de suas vidas. Um exemplo disso é a difícil inserção dos surdos no mercado de trabalho, devido à precária educação recebida por eles e ao preconceito intrínseco à sociedade brasileira. Essa conjuntura, de acordo com as ideias do contratrualista Johm Locke, configura-se uma violação do “contrato social”, já que o Estado não cumpre sua função de garantir que tais cidadãos gozem de direitos imprescindíveis (como direito à educação de qualidade) para a manutenção da igualdade entre os membros da sociedade, o que expõe os surdos a uma condição de ainda maior exclusão e desrespeito.

13. __________ (expressão resumidora), faz-se necessário que a Escola promova a formação de cidadãos que respeitem às diferenças e valorizem a inclusão, por intermédio de palestras, debates e trabalhos em grupo, que envolvam a família, a respeito desse tema, visando a ampliar o contato entre a comunidade escolar e as várias formas de deficiência. Além disso, é imprescindível que o Poder Público destine maiores investimentos à capacitação de profissionais da educação especializados no ensino inclusivo e às melhorias estruturais nas escolas, com o objetivo de oferecer aos surdos uma formação mais 14. __________ (de qualidade, boa). Ademais, cabe também ao Estado incentivar a contratação de deficientes por empresas privadas, por meio de subsídios e Parcerias Público-Privadas, objetivando a ampliar a participação desse grupo social no mercado de trabalho. Dessa forma, será possível reverter um passado de preconceito e exclusão, narrado por Machado de Assis e ofertar condições de educação mais justas a esses cidadãos.


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