Leia o poema abaixo para responder às questões 1, 2 e 3:
A Cristo Nosso Senhor crucificado estando o poeta na última hora de sua vida
Gregório de Matos
1) Que características da
literatura barroca podemos perceber no poema acima?
2) A religiosidade
católico-cristã cultivada no contexto da Contarreforma manifesta-se em diversos
poemas barrocos por meio de uma linguagem ornamentada, repleta de imagens.
a) Na primeira estrofe do
texto 1, o que o eu lírico declara a Jesus? Comprove sua resposta com elementos
do texto.
b) Nessa estrofe, a cruz, importante
símbolo do cristianismo, é retratada por meio de uma figura de linguagem.
Identifique e explique essa figura.
c) No quarto verso dessa
estrofe, o eu lírico finaliza com uma figura de linguagem a declaração que faz
a Jesus. Qual é essa figura? Que efeito de sentido ela produz na primeira
estrofe?
3) No poema, ao sentir que o
fim de sua vida se aproxima, o eu lírico, nas duas últimas estrofes, busca a
salvação de sua alma por meio de uma argumentação.
a) Que argumento o eu lírico
utiliza na terceira estrofe?
b) Na última estrofe, o eu
lírico conclui que há esperança para sua salvação. Como ele chega a essa
conclusão?
Leia o poema abaixo para responder à questão 4.
Ao
valimento que tem o mentir
Mau
ofício é mentir, mas proveitoso...
Tanta
mentira, tanta utilidade
Traz
consigo o mentir nesta cidade
Como
o diz o mais triste mentiroso.
Eu,
como um ignorante e um baboso,
Me
pus a verdadeiro, por vaidade;
Todo
o meu cabedal meti em verdade
E
saí do negócio perdidoso
Perdi
o principal, que eram verdades,
Perdi
os interesses de estimar-me,
Perdi-me
a mim em tanta soledade;
Deram
os meus amigos em deixar-me,
Cobrei
ódios e inimizades...
Eu
me meto a mentir e a aproveitar-me.
Gregório
de Matos
4- O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas vertentes. Identifique-a e justifique sua resposta.
Leia o texto atentamente para responder à questão 5.
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te
lembra hoje Deus por sua Igreja;
De
pó te faz espelho, em que se veja
A
vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te
Deus, que és pó para humilhar-te,
E
como o teu baixel sempre fraqueja
Nos
mares da vaidade, onde peleja,
Te
põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta,
alerta, pois, que o vento berra.
Se
assopra a vaidade e incha o pano,
Na
proa a terra tens, amaina e ferra.
Todo
o lenho mortal, baixel humano,
Se
busca a salvação, tome hoje terra,
Que
a terra de hoje é porto soberano.
Gregório
de Matos
5- Gregório
de Matos expressou em sua obra toda a tensão do século XVII, ao abordar os
temas predominantes do Barroco. Identifique no poema elementos que atestam o comprometimento
do poeta com o respectivo momento literário.
Texto para a questão 6.
Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia
A
cada canto um grande conselheiro,
Que
nos quer governar cabana e vinha;
Não
sabem governar sua cozinha,
E
podem governar o mundo inteiro.
Em
cada porta um bem frequente olheiro,
Que
a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa,
escuta, espreita e esquadrinha,
Para
o levar à praça e ao terreiro.
Muitos
mulatos desavergonhados,
Trazidos
sob os pés os homens nobres,
Posta
nas palmas toda a picardia,
Estupendas
usuras nos mercados,
Todos
os que não furtam muito pobres:
E
eis aqui a cidade da Bahia.
Gregório
de Matos
6- Neste
poema, o autor barroco vai revelando, de forma contundente, um panorama da Bahia
do século XVII. Sua crítica se refere, de modo geral
a)
à arrogância e ao autoritarismo dos políticos, que não conseguem sequer
governar a própria vida.
b)
à forma como os pobres, que não furtam, são tratados pelos aproveitadores,
sejam governantes ou não.
c)
à ousadia dos governantes e à escravidão, que humilhava os negros e mulatos e
envergonhava o país.
d)
aos maus costumes dos governantes e comerciantes, que vivem de intrigas e
usuras.
e)
aos péssimos costumes e comportamentos da população em geral, independentemente
do estrato ou posição social.
Texto para a questão 7.
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto
estamos vendo a qualquer hora
Em
tuas faces a rosada Aurora,
Em
teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
Enquanto
com gentil descortesia
O
ar, que fresco Adônis te namora,
Te
espalha a rica trança voadora,
Quando
vem passear-te pela fria:
Goza,
goza da flor da mocidade,
Que
o tempo trota a toda ligeireza,
E
imprime em toda a flor sua pisada.
Oh,
não aguardes, que a madura idade
Te
converta em flor, essa beleza
Em
terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.
Gregório
de Matos
Acerca
da(s) característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de Gregório de Matos, destaca(m)-se.
I.
Uso de linguagem vulgar e tratamento impiedoso às
pessoas
de sua época.
II.
Uso das figuras de linguagem antítese e paradoxo,
evidenciando
a oposição de ideias.
III.
Desenvolvimento do tema clássico locus amoenus (lugar tranquilo, agradável,
onde se encontram os amantes).
7- Pode(m)
ser apontada(s) como característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de
Gregório de Matos apenas:
a)
I.
b)
II.
c)
III.
d)
II e III.
Leia o poema para responder ao que se pede.
Goze a corte o ambicioso
de
aplausos, e vaidades,
que
eu cá nestas soledades
o
melhor descanso gozo:
aqui
vivo cuidadoso
de
descuidos, e este estado
julgo
bem-aventurado,
que
o melhor estado, cuido,
é
aquele, em que o descuido
vem
a ser todo o cuidado.
Gregório
de Matos
8- Gregório de Matos foi um dos mais notáveis poetas do Barroco em língua portuguesa, especialmente por possuir independência de pensamento e sofisticada capacidade de escrita. Para criticar homens vaidosos e ambiciosos de seu tempo, o poeta usa uma fi gura de linguagem cara a muitos textos barrocos. Essa figura é:
a)
a metáfora, empregada várias vezes como forma de comparar os bons e os maus.
b)
a elipse, usada para camuflar a identidade daqueles a quem procura criticar.
c)
a prosopopeia, utilizada para personificar vários sentimentos negativos.
d)
o hipérbato, inversões sintáticas que reforçam o contraste entre o poeta e os
criticados.
e)
a ironia, recurso útil para expressar sua vida marcada por escândalos e
inimizades.
O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu.
Seis
horas enche e outras tantas vaza
A
maré pelas margens do Oceano,
E
não larga a tarefa um ponto no ano,
Depois
que o mar rodeia, o sol abrasa.
Desde
a esfera primeira opaca, ou rasa
A
Lua com impulso soberano
Engole
o mar por um secreto cano,
E
quando o mar vomita, o mundo arrasa.
Muda-se
o tempo, e suas temperanças.
Até
o céu se muda, a terra, os mares,
E
tudo está sujeito a mil mudanças.
Só
eu, que todo o fim de meus pesares
Eram
de algum minguante as esperanças,
Nunca
o minguante vi de meus azares.
9- De
acordo com o poema, é correto afirmar:
a)
A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez
que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si.
b)
A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do
sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano.
c)
A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara
oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável.
d)
A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e
bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a áurea mediocritas.
e)
A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos
inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.
Leia o fragmento do Sermão da sexagésima, do padre Antônio
Vieira, para responder à questão 10.
“Por isso são maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas
os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo
pode-se ferir pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra
vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque
quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra.
Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras.”
VIEIRA, Antônio. Sermões escolhidos. São Paulo: Martin
Claret, p. 84.
10- Sobre o sermão, seu autor e o trecho reproduzido, assinale a
afirmação correta.
a) De acordo com o trecho em questão, os piores ouvintes são aqueles de entendimento agudo, porque as setas agudas se despontam na pedra.
b) Neste sermão, Vieira faz uma crítica aos sermões rebuscados
e incompreensíveis e ensina a arte de pregar.
c) O trecho exemplifica a preferência de Vieira pelo jogo de palavras e pelo exagero formal.
d) Vieira afirma que é mais fácil falar para aqueles que têm
“vontades endurecidas”. Basta que se use argumentos agudos.
e) O sermão, cuja premissa é a “Parábola do semeador”, alega
que as pedras são “solo fértil” para pregar; basta que o pregador use palavras
duras (agudas) como setas, que rompem a pedra com as suas pontas.
Leia e responda.
“Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. [...] O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele.”
11- Podemos reconhecer nesse trecho do padre Antônio Vieira:
a) o caráter argumentativo típico do estilo barroco (século
XVII).
b) a pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor árcade
(século XVIII).
c) uma visão de mundo centrada no homem, própria da época
romântica (princípio do século XIX).
d) o racionalismo comum dos escritores da escola realista (fim
do século XIX).
e) a consciência da destruição da natureza pelo homem, típica
de um escritor moderno (século XX).
Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos
pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão
pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não
há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto?
Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje
menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se
a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum
fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a
matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós;
a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões escolhidos. V. 2. São Paulo: Edameris,
1965.
12- No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a
eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva
sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal:
a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas
abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui
respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a
eficácia das pregações.
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja
durante os sermões.
“A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos
comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda
maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os
pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a
fealdade deste escândalo mostrou-lhes nos peixes; e eu, que prego aos peixes,
para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai,
peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais
os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que
haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior
açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir,
vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas:
vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação
nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e
como se hão de comer. [...] Diz Deus que comem os homens não só o seu povo,
senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que
são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república,
estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os
engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das
cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um
por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui
devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não
como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os
outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de
peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos
os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os
pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com tudo,
assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem
fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não
defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut
cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes?"
Antônio Vieira. Essencial.
13- No sermão, Vieira critica:
a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.
b) a falta de ambição dos miseráveis.
c) a ganância excessiva dos poderosos.
d) o excesso de humildade dos miseráveis.
e) o excesso de vaidade dos poderosos.
Leia para responder.
[...] Vai o navio navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela, ou na corda, e cai palpitando. Aos outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das antenas e cair morto! [...] O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas laços, como ave. Vê, voador, como correu pela posta o teu castigo. Pouco há, nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés, amortalhado nas asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe: nem voar poderás já, nem nadar.[...]
VIEIRA, Antônio. Os voadores. Vieira: trechos escolhidos.
Seleção de Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Agir, 1971. p. 64.
(Coleção Nossos Clássicos).
14- Pe. Antônio Vieira, por meio de uma linguagem metafórica,
faz uma reflexão crítica acerca:
a) da imortalidade.
b) da hipocrisia.
c) do egoísmo.
d) da ambição.
e) da injustiça.
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