segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Barroco

 Leia o poema abaixo para responder às questões 1, 2 e 3:

 

A Cristo Nosso Senhor crucificado estando o poeta na última hora de sua vida

Meu Deus, que estais pendente em um madeiro,
Em cuja lei protesto viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme, e inteiro.
  
Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai manso Cordeiro.
  
Mui grande é vosso amor, e meu delito,
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
  
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

Gregório de Matos

 

1) Que características da literatura barroca podemos perceber no poema acima?

 

2) A religiosidade católico-cristã cultivada no contexto da Contarreforma manifesta-se em diversos poemas barrocos por meio de uma linguagem ornamentada, repleta de imagens.

a) Na primeira estrofe do texto 1, o que o eu lírico declara a Jesus? Comprove sua resposta com elementos do texto.

b) Nessa estrofe, a cruz, importante símbolo do cristianismo, é retratada por meio de uma figura de linguagem. Identifique e explique essa figura.

c) No quarto verso dessa estrofe, o eu lírico finaliza com uma figura de linguagem a declaração que faz a Jesus. Qual é essa figura? Que efeito de sentido ela produz na primeira estrofe?

 

3) No poema, ao sentir que o fim de sua vida se aproxima, o eu lírico, nas duas últimas estrofes, busca a salvação de sua alma por meio de uma argumentação.

a) Que argumento o eu lírico utiliza na terceira estrofe?

b) Na última estrofe, o eu lírico conclui que há esperança para sua salvação. Como ele chega a essa conclusão?


Leia o poema abaixo para responder à questão 4.


Ao valimento que tem o mentir

Mau ofício é mentir, mas proveitoso...

Tanta mentira, tanta utilidade

Traz consigo o mentir nesta cidade

Como o diz o mais triste mentiroso.

Eu, como um ignorante e um baboso,

Me pus a verdadeiro, por vaidade;

Todo o meu cabedal meti em verdade

E saí do negócio perdidoso

Perdi o principal, que eram verdades,

Perdi os interesses de estimar-me,

Perdi-me a mim em tanta soledade;

Deram os meus amigos em deixar-me,

Cobrei ódios e inimizades...

Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.

Gregório de Matos


4- O barroco apresenta duas vertentes: o cultismo, caracterizado pela linguagem rebuscada e extravagante, pelos jogos de palavras; e o conceptismo, marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico. O poema de Gregório de Matos, exemplo da estética barroca, insere-se em uma dessas vertentes. Identifique-a e justifique sua resposta.

 

Leia o texto atentamente para responder à questão 5.

Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,

Te lembra hoje Deus por sua Igreja;

De pó te faz espelho, em que se veja

A vil matéria, de que quis formar-te.

Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,

E como o teu baixel sempre fraqueja

Nos mares da vaidade, onde peleja,

Te põe à vista a terra, onde salvar-te.

Alerta, alerta, pois, que o vento berra.

Se assopra a vaidade e incha o pano,

Na proa a terra tens, amaina e ferra.

Todo o lenho mortal, baixel humano,

Se busca a salvação, tome hoje terra,

Que a terra de hoje é porto soberano.

Gregório de Matos

 

5- Gregório de Matos expressou em sua obra toda a tensão do século XVII, ao abordar os temas predominantes do Barroco. Identifique no poema elementos que atestam o comprometimento do poeta com o respectivo momento literário.

 

Texto para a questão 6.


Descreve o que era realmente naquele tempo a cidade da Bahia

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um bem frequente olheiro,

Que a vida do vizinho e da vizinha

Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,

Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos sob os pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda a picardia,

Estupendas usuras nos mercados,

Todos os que não furtam muito pobres:

E eis aqui a cidade da Bahia.

Gregório de Matos

 

6- Neste poema, o autor barroco vai revelando, de forma contundente, um panorama da Bahia do século XVII. Sua crítica se refere, de modo geral

a) à arrogância e ao autoritarismo dos políticos, que não conseguem sequer governar a própria vida.

b) à forma como os pobres, que não furtam, são tratados pelos aproveitadores, sejam governantes ou não.

c) à ousadia dos governantes e à escravidão, que humilhava os negros e mulatos e envergonhava o país.

d) aos maus costumes dos governantes e comerciantes, que vivem de intrigas e usuras.

e) aos péssimos costumes e comportamentos da população em geral, independentemente do estrato ou posição social.

 

Texto para a questão 7.

Discreta e formosíssima Maria,

Enquanto estamos vendo a qualquer hora

Em tuas faces a rosada Aurora,

Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia

O ar, que fresco Adônis te namora,

Te espalha a rica trança voadora,

Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh, não aguardes, que a madura idade

Te converta em flor, essa beleza

Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.

Gregório de Matos

 

Acerca da(s) característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de Gregório de Matos, destaca(m)-se.

I. Uso de linguagem vulgar e tratamento impiedoso às

pessoas de sua época.

II. Uso das figuras de linguagem antítese e paradoxo,

evidenciando a oposição de ideias.

III. Desenvolvimento do tema clássico locus amoenus (lugar tranquilo, agradável, onde se encontram os amantes).

 

7- Pode(m) ser apontada(s) como característica(s) barroca(s) presente(s) no texto de Gregório de Matos apenas:

a) I.

b) II.

c) III.

d) II e III.

 

Leia o poema para responder ao que se pede.

Goze a corte o ambicioso

de aplausos, e vaidades,

que eu cá nestas soledades

o melhor descanso gozo:

aqui vivo cuidadoso

de descuidos, e este estado

julgo bem-aventurado,

que o melhor estado, cuido,

é aquele, em que o descuido

vem a ser todo o cuidado.

Gregório de Matos


8- Gregório de Matos foi um dos mais notáveis poetas do Barroco em língua portuguesa, especialmente por possuir independência de pensamento e sofisticada capacidade de escrita. Para criticar homens vaidosos e ambiciosos de seu tempo, o poeta usa uma fi gura de linguagem cara a muitos textos barrocos. Essa figura é:

a) a metáfora, empregada várias vezes como forma de comparar os bons e os maus.

b) a elipse, usada para camuflar a identidade daqueles a quem procura criticar.

c) a prosopopeia, utilizada para personificar vários sentimentos negativos.

d) o hipérbato, inversões sintáticas que reforçam o contraste entre o poeta e os criticados.

e) a ironia, recurso útil para expressar sua vida marcada por escândalos e inimizades.

 

O soneto “No fluxo e refluxo da maré encontra o poeta incentivo pra recordar seus males”, de Gregório de Matos, apresenta características marcantes do poeta e do período em que ele o escreveu.

Seis horas enche e outras tantas vaza

A maré pelas margens do Oceano,

E não larga a tarefa um ponto no ano,

Depois que o mar rodeia, o sol abrasa.

Desde a esfera primeira opaca, ou rasa

A Lua com impulso soberano

Engole o mar por um secreto cano,

E quando o mar vomita, o mundo arrasa.

Muda-se o tempo, e suas temperanças.

Até o céu se muda, a terra, os mares,

E tudo está sujeito a mil mudanças.

Só eu, que todo o fim de meus pesares

Eram de algum minguante as esperanças,

Nunca o minguante vi de meus azares.

 

9- De acordo com o poema, é correto afirmar:

a) A temática barroca do desconcerto do mundo está representada no poema, uma vez que as coisas do mundo estão em desarmonia entre si.

b) A transitoriedade das coisas terrenas está em oposição ao caráter imutável do sujeito, submetido a uma concepção fatalista do destino humano.

c) A concepção de um mundo às avessas está figurada no soneto através da clara oposição entre o mar que tudo move e a lua imutável.

d) A clareza empregada para exposição do tema reforça o ideal de simplicidade e bucolismo da poesia barroca, cujo lema fundamental era a áurea mediocritas.

e) A sintonia entre a natureza e o eu-poético embasa as personificações de objetos inanimados aliadas às hipérboles que descrevem o sujeito.


Leia o fragmento do Sermão da sexagésima, do padre Antônio Vieira, para responder à questão 10.


“Por isso são maus ouvintes os de entendimentos agudos. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quando as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras.”

VIEIRA, Antônio. Sermões escolhidos. São Paulo: Martin Claret, p. 84.


10- Sobre o sermão, seu autor e o trecho reproduzido, assinale a afirmação correta.

a) De acordo com o trecho em questão, os piores ouvintes são aqueles de entendimento agudo, porque as setas agudas se despontam na pedra.

b) Neste sermão, Vieira faz uma crítica aos sermões rebuscados e incompreensíveis e ensina a arte de pregar.

c) O trecho exemplifica a preferência de Vieira pelo jogo de palavras e pelo exagero formal.

d) Vieira afirma que é mais fácil falar para aqueles que têm “vontades endurecidas”. Basta que se use argumentos agudos.

e) O sermão, cuja premissa é a “Parábola do semeador”, alega que as pedras são “solo fértil” para pregar; basta que o pregador use palavras duras (agudas) como setas, que rompem a pedra com as suas pontas.

 

Leia e responda.


“Não é o homem um mundo pequeno que está dentro do mundo grande, mas é um mundo grande que está dentro do pequeno. Baste por prova o coração humano, que sendo uma pequena parte do homem, excede na capacidade a toda a grandeza do mundo. [...] O mar, com ser um monstro indômito, chegando às areias, para; as árvores, onde as põem, não se mudam; os peixes contentam-se com o mar, as aves com o ar, os outros animais com a terra. Pelo contrário, o homem, monstro ou quimera de todos os elementos, em nenhum lugar para, com nenhuma fortuna se contenta, nenhuma ambição ou apetite o falta: tudo confunde e como é maior que o mundo, não cabe nele.”


11- Podemos reconhecer nesse trecho do padre Antônio Vieira:

a) o caráter argumentativo típico do estilo barroco (século XVII).

b) a pureza de linguagem e o estilo rebuscado do escritor árcade (século XVIII).

c) uma visão de mundo centrada no homem, própria da época romântica (princípio do século XIX).

d) o racionalismo comum dos escritores da escola realista (fim do século XIX).

e) a consciência da destruição da natureza pelo homem, típica de um escritor moderno (século XX).

 


Sermão da Sexagésima

Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.

VIEIRA, A. Sermões escolhidos. V. 2. São Paulo: Edameris, 1965.

 

12- No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal:

a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.

b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.

c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.

d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.

e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.

 

 Leia o excerto do Sermão de Santo Antônio aos peixes, de Antônio Vieira (1608-1697).

“A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. [...] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo mostrou-lhes nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros, muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas: vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão de comer, e como se hão de comer. [...] Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem, e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo se devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres é que, para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão cotidiano dos grandes: e assim como pão se come com tudo, assim com tudo, e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo, nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes?"

Antônio Vieira. Essencial.

13- No sermão, Vieira critica:

a) a preguiça desmesurada dos miseráveis.

b) a falta de ambição dos miseráveis.

c) a ganância excessiva dos poderosos.

d) o excesso de humildade dos miseráveis.

e) o excesso de vaidade dos poderosos.


Leia para responder.

[...] Vai o navio navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela, ou na corda, e cai palpitando. Aos outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca, ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima das antenas e cair morto! [...] O voador fê-lo Deus peixe, e ele quis ser ave, e permite o mesmo Deus que tenha os perigos de ave e mais os de peixe. Todas as velas para ele são redes, como peixe, e todas as cordas laços, como ave. Vê, voador, como correu pela posta o teu castigo. Pouco há, nadavas vivo no mar com as barbatanas, e agora jazes em um convés, amortalhado nas asas. Não contente com ser peixe, quiseste ser ave, e já não és ave nem peixe: nem voar poderás já, nem nadar.[...]

VIEIRA, Antônio. Os voadores. Vieira: trechos escolhidos.

Seleção de Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Agir, 1971. p. 64.

(Coleção Nossos Clássicos).

 

14- Pe. Antônio Vieira, por meio de uma linguagem metafórica, faz uma reflexão crítica acerca:

a) da imortalidade.

b) da hipocrisia.

c) do egoísmo.

d) da ambição.

e) da injustiça.


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