Exercício 1
Leia o texto abaixo para responder às questões:
Crônica - Engenheiros do Hawaii
Já
não passa nenhum carro por aqui
Já não passa nenhum filme na TV
Você enrola outro cigarro por aí
E não dá bola pro que vai acontecer
Mais
um pouco e mais um século termina
Mais um louco pede troco na esquina
Tudo isso já faz parte da rotina
E a rotina já faz parte de você
Que
tem ideias tão modernas
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas
Você,
que tem ideias tão modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas
Todo
mundo já tomou a Coca-Cola
A Coca-Cola já tomou conta da China
Todo cara luta por uma menina
E a Palestina luta pra sobreviver
E
a cidade cada vez mais violenta
(Tipo Chicago nos anos quarenta)
E você, cada vez mais violento
No seu apartamento ninguém fala com você
Que
tem ideias tão modernas
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas
Você,
que tem ideias tão modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas
Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=m-bAGalXHvQ
a) Em sua opinião, por que o autor do texto escolheu o título “Crônica”? Justifique sua resposta com fragmentos do texto. (3 a 5 linhas de resposta)
b) O texto é de caráter argumentativo, pois visa defender um ou mais pontos de
vista. Qual ou quais pontos de argumentação são levantados no texto? Justifique
sua resposta com fragmentos. (3 a 5 linhas de resposta)
c) Qual verso da canção mais lhe chamou a atenção? Por quê? (3 a 5 linhas de resposta)
Exercício 2
Leia o texto abaixo para responder às questões:
O
lixo - Luís Fernando Veríssimo
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo.
É a
primeira vez que se falam.
-- Bom
dia...
-- Bom
dia.
-- A
senhora é do 610.
-- E o
senhor do 612
-- É.
-- Eu
ainda não lhe conhecia pessoalmente...
-- Pois
é...
-- Desculpe
a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
-- O meu
quê?
-- O seu
lixo.
-- Ah...
--
Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
-- Na
verdade sou só eu.
-- Mmmm.
Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
-- É que
eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
--
Entendo.
-- A
senhora também...
-- Me
chame de você.
-- Você
também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em
seu lixo. Champignons, coisas assim...
-- É que
eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às
vezes sobra...
-- A
senhora... Você não tem família?
-- Tenho,
mas não aqui.
-- No
Espírito Santo.
-- Como é
que você sabe?
-- Vejo
uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
-- É.
Mamãe escreve todas as semanas.
-- Ela é
professora?
-- Isso é
incrível! Como foi que você adivinhou?
-- Pela
letra no envelope. Achei que era letra de professora.
-- O
senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
-- Pois
é...
-- No outro
dia tinha um envelope de telegrama amassado.
-- É.
-- Más
notícias?
-- Meu
pai. Morreu.
-- Sinto
muito.
-- Ele já
estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
-- Foi
por isso que você recomeçou a fumar?
-- Como é
que você sabe?
-- De um dia
para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
-- É
verdade. Mas consegui parar outra vez.
-- Eu,
graças a Deus, nunca fumei.
-- Eu
sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
--
Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.
-- Você
brigou com o namorado, certo?
-- Isso
você também descobriu no lixo?
--
Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora.
Depois,
muito lenço de papel.
-- É,
chorei bastante, mas já passou.
-- Mas
hoje ainda tem uns lencinhos...
-- É que
eu estou com um pouco de coriza.
-- Ah.
-- Vejo
muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
-- É.
Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
--
Namorada?
-- Não.
-- Mas há
uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
-- Eu
estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
-- Você
não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
-- Você
já está analisando o meu lixo!
-- Não
posso negar que o seu lixo me interessou.
--
Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho
que foi a poesia.
-- Não!
Você viu meus poemas?
-- Vi e
gostei muito.
-- Mas
são muito ruins!
-- Se
você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
-- Se eu
soubesse que você ia ler...
-- Só não
fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo
da pessoa ainda é propriedade dela?
-- Acho
que não. Lixo é domínio público.
-- Você
tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa
vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa
parte mais social. Será isso?
-- Bom,
aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
-- Ontem,
no seu lixo...
-- O quê?
-- Me enganei,
ou eram cascas de camarão?
--
Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
-- Eu
adoro camarão.
--
Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
-- Jantar
juntos?
-- É.
-- Não
quero dar trabalho.
--
Trabalho nenhum.
-- Vai
sujar a sua cozinha?
-- Nada.
Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
-- No seu
lixo ou no meu?
a) Qual é o fato do dia a dia que serve de tema para a crônica lida? Justifique (2 a 4 linhas de resposta)
b) Dependendo do cronista e do tema, as cônicas podem divertir, denunciar,
alertar, sensibilizar, humanizar, promover reflexões críticas acerca do mundo,
etc. Que efeito a crônica lida produz nos leitores? (2 a 4 linhas de resposta)
c) Como
se caracteriza a linguagem da crônica lida? Justifique (2 a 4 linhas de
resposta)
d) O
texto em questão pode ser considerado um exemplo de crônica narrativa ou
argumentativa? Comente. (2 a 4 linhas de resposta)
e) Na sua
opinião por que uma das personagens afirma que o lixo é um lugar comunitário e
social? (2 a 4 linhas de resposta)
f) Todo o diálogo revela uma característica muito comum entre os habitantes das grandes cidades. Na sua opinião, qual característica é essa? (2 a 4 linhas de resposta)
Exercício 3
Leia a crônica abaixo e comente sobre seus aspectos de gênero e semânticos.
O homem trocado
O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
–
Tudo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo.
–
Eu estava com medo desta operação…
–
Por quê? Não havia risco nenhum.
–
Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos…
E
conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no
berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca
entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o
erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois
o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de
um bebê chinês.
–
E o meu nome? Outro engano.
–
Seu nome não é Lírio?
–
Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e…
Os
enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia.
Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O
computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
–
Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado
tive que pagar mais de R$ 3 mil.
–
O senhor não faz chamadas interurbanas?
–
Eu não tenho telefone!
Conhecera
sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.
–
Por quê?
–
Ela me enganava.
Fora
preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não
fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
–
O senhor está desenganado.
Mas
também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples
apendicite.
–
Se você diz que a operação foi bem…
A
enfermeira parou de sorrir.
–
Apendicite? – perguntou, hesitante.
–
É. A operação era para tirar o apêndice.
–
Não era para trocar de sexo?
Luís Fernando Veríssimo
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