domingo, 29 de maio de 2022

Crônica

Exercício 1

Leia o texto abaixo para responder às questões:

Crônica - Engenheiros do Hawaii

Já não passa nenhum carro por aqui
Já não passa nenhum filme na TV
Você enrola outro cigarro por aí
E não dá bola pro que vai acontecer

Mais um pouco e mais um século termina
Mais um louco pede troco na esquina
Tudo isso já faz parte da rotina
E a rotina já faz parte de você

Que tem ideias tão modernas
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas

Você, que tem ideias tão modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas

Todo mundo já tomou a Coca-Cola
A Coca-Cola já tomou conta da China
Todo cara luta por uma menina
E a Palestina luta pra sobreviver

E a cidade cada vez mais violenta
(Tipo Chicago nos anos quarenta)
E você, cada vez mais violento
No seu apartamento ninguém fala com você

Que tem ideias tão modernas
E é o mesmo homem que vivia nas cavernas

Você, que tem ideias tão modernas
É o mesmo homem que vivia nas cavernas


Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=m-bAGalXHvQ


a) Em sua opinião, por que o autor do texto escolheu o título “Crônica”? Justifique sua resposta com fragmentos do texto. (3 a 5 linhas de resposta)


b) O texto é de caráter argumentativo, pois visa defender um ou mais pontos de vista. Qual ou quais pontos de argumentação são levantados no texto? Justifique sua resposta com fragmentos. (3 a 5 linhas de resposta)


c) Qual verso da canção mais lhe chamou a atenção? Por quê? (3 a 5 linhas de resposta)



Exercício 2

Leia o texto abaixo para responder às questões:

O lixo - Luís Fernando Veríssimo

 Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo.

É a primeira vez que se falam.

-- Bom dia...

-- Bom dia.

-- A senhora é do 610.

-- E o senhor do 612

-- É.

-- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...

-- Pois é...

-- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...

-- O meu quê?

-- O seu lixo.

-- Ah...

-- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...

-- Na verdade sou só eu.

-- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.

-- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...

-- Entendo.

-- A senhora também...

-- Me chame de você.

-- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...

-- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...

-- A senhora... Você não tem família?

-- Tenho, mas não aqui.

-- No Espírito Santo.

-- Como é que você sabe?

-- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.

-- É. Mamãe escreve todas as semanas.

-- Ela é professora?

-- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?

-- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.

-- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.

-- Pois é...

-- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.

-- É.

-- Más notícias?

-- Meu pai. Morreu.

-- Sinto muito.

-- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.

-- Foi por isso que você recomeçou a fumar?

-- Como é que você sabe?

-- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.

-- É verdade. Mas consegui parar outra vez.

-- Eu, graças a Deus, nunca fumei.

-- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...

-- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.

-- Você brigou com o namorado, certo?

-- Isso você também descobriu no lixo?

-- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora.

Depois, muito lenço de papel.

-- É, chorei bastante, mas já passou.

-- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...

-- É que eu estou com um pouco de coriza.

-- Ah.

-- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.

-- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.

-- Namorada?

-- Não.

-- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.

-- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.

-- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.

-- Você já está analisando o meu lixo!

-- Não posso negar que o seu lixo me interessou.

-- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.

-- Não! Você viu meus poemas?

-- Vi e gostei muito.

-- Mas são muito ruins!

-- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.

-- Se eu soubesse que você ia ler...

-- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?

-- Acho que não. Lixo é domínio público.

-- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?

-- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...

-- Ontem, no seu lixo...

-- O quê?

-- Me enganei, ou eram cascas de camarão?

-- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.

-- Eu adoro camarão.

-- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...

-- Jantar juntos?

-- É.

-- Não quero dar trabalho.

-- Trabalho nenhum.

-- Vai sujar a sua cozinha?

-- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.

-- No seu lixo ou no meu?


a) Qual é o fato do dia a dia que serve de tema para a crônica lida? Justifique (2 a 4 linhas de resposta)


b) Dependendo do cronista e do tema, as cônicas podem divertir, denunciar, alertar, sensibilizar, humanizar, promover reflexões críticas acerca do mundo, etc. Que efeito a crônica lida produz nos leitores? (2 a 4 linhas de resposta)


c) Como se caracteriza a linguagem da crônica lida? Justifique (2 a 4 linhas de resposta)


d) O texto em questão pode ser considerado um exemplo de crônica narrativa ou argumentativa? Comente. (2 a 4 linhas de resposta)


e) Na sua opinião por que uma das personagens afirma que o lixo é um lugar comunitário e social? (2 a 4 linhas de resposta)


f) Todo o diálogo revela uma característica muito comum entre os habitantes das grandes cidades. Na sua opinião, qual característica é essa? (2 a 4 linhas de resposta)


Exercício 3

Leia a crônica abaixo e comente sobre seus aspectos de gênero e semânticos.

O homem trocado

            O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.

– Tudo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo.

– Eu estava com medo desta operação…

– Por quê? Não havia risco nenhum.

– Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos…

E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.

– E o meu nome? Outro engano.

– Seu nome não é Lírio?

– Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e…

Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.

– Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.

– O senhor não faz chamadas interurbanas?

– Eu não tenho telefone!

Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.

– Por quê?

– Ela me enganava.

Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:

– O senhor está desenganado.

Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples apendicite.

– Se você diz que a operação foi bem…

A enfermeira parou de sorrir.

– Apendicite? – perguntou, hesitante.

– É. A operação era para tirar o apêndice.

– Não era para trocar de sexo?

Luís Fernando Veríssimo







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