Análise de pinturas e textos literários da primeira fase modernista
Tarsila do Amaral
Cândido Portinari
Di Cavalcanti
Anita Malfati
Oswald de Andrade
Canto de Regresso à Patria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os pássaros daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Digestão
A couve mineira tem gosto de bife inglês
Depois do café e da pinga
O gozo de acender a palha
Enrolando o fumo
De Barbacena ou de Goiás
Cigarro cavado
Conversa sentada
Manuel Bandeira
Irene no Céu
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Exercício
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira)
Responda em seu caderno:
1. Qual é o significado de Pasárgada para o eu lírico?
2. No poema ocorre antítese entre aqui e lá. Identifique o espaço a que se refere cada um desses advérbios.
3. Que verso do poema sintetiza o motivo da evasão da realidade?
4. Esse mecanismo de evasão da realidade foi frequente em outro estilo de época. Qual?
5. A realidade de Pasárgada não obedece à lógica. Anote dois fatos dessa realidade que permitem tal conclusão.
6. Na adolescência, o poeta Manuel Bandeira contraiu tuberculose, que na época era uma doença fatal. Releia a terceira estrofe do poema e reflita: as atividades que o eu lírico vê como possíveis em Pasárgada são rotineiras na juventude. Por que, então, ele as valoriza tanto?
7. Os anseios que o eu lírico pretende concretizar em Pasárgada são de natureza predominantemente espirituais ou materiais?
8. Na biografia de Bandeira consta que lhe serviu de babá uma mulata chamada Rosa, que é citada no poema. Quem, lá em Pasárgada, exercerá o papel que Rosa desempenhou aqui? Por quê?
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